Apologética Católica

Apologética Católica: Livros Deuterocanônicos


A apologética Católica  muitas vezes requer dos católicos a elaboração de argumentos e respostas que, apesar de possuírem explicações óbvias dentro da própria Bíblia, a exemplo da oração pelos mortos descrita em Macabeus II, são  rejeitados pelos nossos irmão protestantes, devido à divergência no reconhecimento  do cânon Bíblico.

O cânon da Bíblia é o catálogo ou lista de livros que a Igreja considera inspirados por Deus, chamados, portanto, livros canônicos. O cânon se aplica à toda a Sagrada Escritura, e não apenas à uma parte dela.  Há 73 livros na Bíblia Católica, 46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento. Sumariamente, podemos dizer que cabe à Igreja determinar quais livros são inspirados e quais não são, pois ela tem a autoridade recebida de Cristo e a assistência do Espírito Santo. Contudo, a Igreja não executa essa operação de forma arbitrária, mas através da aplicação de critérios internos e externos, através dos quais lhe é permitido discernir e descobrir a regra de fé e da verdade em um determinado livro.

Os livros de Tobias, Judite, Macabeus I e II, Eclesiástico, Sabedoria, Baruc e algumas passagens adicionais de Ester e Daniel não estão na Bíblia hebraica, como definidos pelos rabinos judeus no final do primeiro século da era cristã, ou seja após a Morte e Ressurreição de Nosso Senhor. No entanto, esses livros desde sempre fizeram parte da versão chamada da Bíblia Judaica escrita em grego, a chamada Septuaginta, que foi provavelmente feita a partir de 250 aC. A Septuaginta foi a versão da Bíblia mais utilizada pelos judeus de língua grega e pelos primeiros cristãos. Os livros da Bíblia hebraica também são chamados protocanônicos, ou seja do “primeiro cânon”. Porém, foi por questões pertinentes ao judaísmo do primeiro século que tais livros foram excluídos das Escrituras judaicas, mas nem por isso foram descartados pelo primeiros cristãos, tanto da Palestina como aqueles que se encontravam espalhados pelo Império Romano.

Alguns desses livros (Tobias, Judite, Macabeus I e Eclesiástico) foram escritos originalmente em hebraico (ou alguns provavelmente em aramaico), enquanto outros (Macabeus II, Sabedoria e os acréscimos a Ester) foram escritos em grego. Quanto aos outros (Baruc e adições ao Daniel) não se sabe com certeza qual era a língua original. No entanto, dos livros escritos originalmente em hebraico (ou aramaico), conservou-se apenas boa parte do texto original de Eclesiástico, e alguns pequenos fragmentos de outros livros. Porém, os textos completos de todos eles foram totalmente preservados apenas em grego e outras versões antigas.

Como dito acima, os primeiros cristãos, bem como os Judeus de língua grega sempre reverenciaram os livros ditos “deuterocanônicos” como livros sagrados, portanto, o argumento protestante de que tais livros não eram considerados inspirados, e que a Igreja Católica os tenha declarado como tal como uma reação à reforma protestante, é simplesmente falso.  Para refutar esse argumento basta-nos avaliar dois fatos:

1-    As referências e citações dos Patriacas da Igreja aos livros deuterocanônicos  – Para não nos extendermos muito, citaremos apenas três Patriacas, haja visto que são muitos os registros de citações Patrísticas aos deuteroncanônicos.

A Carta de Barnabé

“Desde que, portanto, [Cristo] estava prestes a se manifestar e sofrer na carne, seu sofrimento era prefigurado. Pois o profeta fala contra o mal,” Ai deles, porque causam dano a si mesmos.” [Is . 3:9], dizendo: “Cerquemos o justo, porque ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos acusa de contrariar a nossa educação.” [Sabedoria 2:12.] “(Carta de Barnabé 06:07 [AD 74]). As referências à tais livros contidas dentro do próprio Novo Testamento.

 Clemente de Roma

“Pela palavra do seu poder [de Deus] estabeleceu todas as coisas, e por sua palavra ele pode derrubá-los.” Quem dirá a ele: ” Que fizeste tu? E quem se oporá a vosso julgamento? … Ou quem se levantará contra vós para defender os culpados? “[Sabedoria . 12:12] “(Carta aos Coríntios 27:5 [AD ca. 80]).

Hipólito

“O que é narrado aqui [na história de Susana] aconteceu em um momento posterior, embora seja colocada na frente do livro [de Daniel], pois era um costume com os escritores para narrar muitas coisas em uma ordem invertida em seus escritos …. [N] ós devemos dar atenção, amados, temendo que alguém seja surpreendido em alguma transgressão e arisque a perda de sua alma, sabendo como nós que Deus é o juiz de todos e da Palavra é o próprio olho, que nada do que é feito nos escape do mundo, portanto, sempre vigilante no coração e puro na vida, imitemos Susannah “(Comentário sobre Daniel [AD 204];. [. Dan 13] a história de Susana não está na protestante Bíblia).

2-    Referências aos Deuterocanônicos contidas no Novo Testamento. – A maioria das referências ao Antigo Testamento contidas no Novo Testamento vêm da Bíblia Septuaginta, que como visto, continha os livros Deuterocanônicos. O que, por si só,  comprova que esses livros eram sim considerados inspirados, tanto por Cristo como pelos Santos Apóstolos. Além disso, O historiador judeu Josefo, em sua Obra Contra Apion, fala de haverem 22 livros no cânon da Bíblia hebraica,  essa tradição judaica é relatada também pelo bispo cristão Atanásio.

Há pelo menos uma centena delas no NT, mas farei apenas uma apanhado para manter-me breve:

Heb 11:35 – Paulo ensina sobre o martírio da mãe e seus filhos descrito no livro Macabeus II 7:1-42.

Mat. 6: 19-20 – A afirmação de Jesus sobre construir-se para si um tesouro no Céu é uma referência direta à Baruc 29:11.

Mat 7:12 – Jesus expõe a “regra de ouro” que fala sobre não fazermos aos outros aquilo que não desejamos à nós mesmos. A regra de ouro saiu do livro de Tobias 4,15.

Mat. 9:36 – A referência ao povo ser tal e qual “ovelhas sem um pastor” encontra-se no livro Judite 11,19

Mar. 4: 15; 16-17 – A descrição sobre as sementes que caem em terreno rochoso encontra-se em Baruc 40,15.

Mar. 9:8 – A descrição do Inferno danatorio, onde os vermes não morrem e o fogo não se extingue ou sacia saiu de Judite 16:17

Lucas 1:42 – A declaração de Isabel à Maria como  bem-aventuranç acima de todas as mulheres segue a declaração de Uzias em Judite 13:18.

Lucas 1:52 – O Magnificat de Maria onde ela falando do poderosos caidos de seus tronos e substituídos pelo humilde segue de Baruc 10:14.

Lucas 2:29 – A declaração de Simeão que diz estar pronto para morrer depois de ver o Menino Jesus segue Tobias 11:9.

Lucas 13:29 – A descrição do Senhor de homens vindos de leste e oeste a alegria de Deus segue Baruc 4:37.

Lucas 21:24 – Utilização de Jesus da expressão “queda pelo fio da espada” saiu de Baruc 28:18.

Lucas 24:4 e Atos 1:10 – A descrição de Lucas sobre os dois homens com vestes resplandecentes lembra-nos de 2 Macc. 3:26.

João 10:22 – A descrição da festa da dedicação é tomada a partir de 1 Macc. 4:59.

João 10:36 – Jesus aceita a inspiração dos Macabeus quanto faz uma analogia da consagração Hanukkah à sua própria consagração ao Pai em 1 Macc. 4:36.

João 15:6 – Galhos que não dão fruto e são cortados segue Sabedoria 4:5, onde galhos são quebrados.

Desta forma, podemos ver que o processo de reconhecimento dos Deuterocanônicos foi uma necessidade percebida pela Igreja em oficializar aquilo que já era considerado Sagrada Escritura pela Igreja primitiva, e de modo algum foi uma mera reação à rejeição Reforma Luterana. O Cânon de Trento apenas confirmou as declarações do anterior e menos autoritários conselhos regionais que incluíam também os livros deuterocanônicos, como o Sínodo de Hipona (393) , e os Conselhos de Cartago de 397. Muito mais tarde (século 15), o Concílio de Florença ensinou a inspiração divina destes livros, mas “não formalmente declarou sua canonicidade”.

4 replies »

  1. Irmão eu estive conferindo os textos e tem vários textos que não bate, não sei se foi erro de digitação mas você deveria consertar isso obrigado.

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  2. No item “2- Referências aos Deuterocanônicos contidas no Novo Testamento”
    Lê-se: […]
    ‘Mat. 6: 19-20 – A afirmação de Jesus sobre construir-se para si um tesouro no Céu é uma referência direta à Baruc 29:11’.

    Mas não existe Baruc 29:11. Também procurei Baruc 2:9-11 mas não há nada referente.

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  3. No ano de 382, no Sínodo de Roma, o papa Dâmaso I, no “Decretum Damasi”, ou explicação de fé, definiu:
    “O cânon da Sagrada Escritura”
    “Agora trataremos das Escrituras divinas, o que a Igreja católica universal deve acolher e o que deve evitar.” Define, portanto, o livros divinamente inspirados no qual se encontram os deuterocanônicos.

    Cf. Denzinger – Hünermann. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Paulinas: Loyola, 2013. p. 71. n. 179.

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