Apologética Católica

A concordância da Graça de Deus e a Liberdade Humana – Parte 2


Desculpem-me pela demora. Desde que voltei de férias parece que tudo o que tinha para fazer tinha uma urgência inexplicável, e o blog, infelizmente, acabou relegado à um mero segundo plano. O que, admito, não deveria ter acontecido, visto que são tantos – graças a Deus – os meus leitores. Assim, aqui estou. Como sempre, na madrugada, já que todas as “urgências da vida” – filhos, marido, etc – dormem na paz de Deus. Amém.

Meu propósito inicial ao criar o Ecclesia Militans foi militar em defesa da Verdade Católica, envangelizar aqueles que buscam conhecer um pouco mais daquilo que ensina a Igreja fé e, claro, esclarecer, na medida que os meu modesto conhecimento me permitir, as dúvidas dos leitores. Portanto, hoje proponho-me a tentar refletir mais um pouco sobre uma pergunta enviada por um leitor sobre a graça e a liberdade humana. Lembremo-nos antes de tudo que, como dito anteriormente, esse tema foi profundamente discutido pelas mentes mais brilhantes da fé Católica, como o Santo Doutor Agostinho. Sendo assim, enquanto apenas leiga, me remeto àquilo escrito por esses homens santos, essas brilhantes mentes, para discutir um pouquinho mais do tema.

Santo Agostinho, no capítulo 66 do seu livro ll Graça e Livre Arbítrio, afirma que há pessoas que supõem que somos privados da liberdade de escolha cada vez que a graça de Deus é mantida em nossas vidas. Outras defendem o livre arbítrio tão ferozmente que chegam à negar a liberdade de escolha. Essa graça, dizem, é derramada sobre nós apenas diante de nosso mérito próprio em recebê-la. Assim, por exemplo, se eu passar nas provas com notas altas é porque me dediquei e estudei muito; resultando que a graça de passar nos exames só me foi dada porque a mereci, por ter-me dedicado tanto ao estudo.  Escrevendo a essas pessoas Agostinho no diz:

Qual é a importância do fato que de que tantas passagens nos requerem guardar os mandamentos de Deus? Ora, para guardar os mandamentos há de ser feita uma escolha, guardá-los ou não guardá-los. Isso deveria ser suficiente para demonstrar que temos a escolha de agir bem ou mal. Há ainda inúmeras passagens onde notamos o caráter da livre escolha humana imbutido no texto, como em Provérbios 3,11 e 3, 27, por exemplo. Agostinho nos explica ainda que é um erro presumir que o homem possa fazer o bem a si e aos outros, por meio do seu próprio esforço e mérito. Do mesmo modo o profeta Jeremias (17,5) nos alerta contra isso ao escrever: Eis o que diz o Senhor: Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz o seu apoio e cujo coração vive distante do Senhor! OU seja, infeliz daquele que supõe que o poder humano, que é fraco e frágil, é suficiente para fazer boas obras e portanto, põe em si e não em Deus as sua esperança por ajuda. Assim a graça, juntamente com o lívre arbítrio, são necessários para se viver uma vida reta, conclui Agostinho.

Contudo, se temos o direito inato ao livre arbítrio, onde até que ponto estaria a graça de Deus presente em nossas escolhas? Agostinho, em consonância com a Bíblia, afirma que sem a graça não somos capazes de fazer nada. Para provar isso, ele usa como exemplo a escolha pela vida celibata feita pelos monges a quem escrevia, dizendo que suas próprias escolha pela abstinência conjugal é em si um sinal da graça. Contudo, a escolha pelo matrimonio também é uma dádiva de Deus, visto que “é pelo Senhor que uma mulher se une ao seu marido”.  Do mesmo modo, S. Paulo afirma que ambos, o celibato casto – pelo qual previne-se o adulterio –  e o matrimonio são dons de Deus. Tendo em vista isso, todos os preceitos da Bíblia que proíbem a fornicação e o adultério não presupõem então o livre arbítrio? Se não houvesse escolha, certamente, não haveria motivo para estipular os preceitos. Portanto, até mesmo a abstenção ou continência são dons da graça.

Resistência à Graça

Nenhum homem está livre da tentação e da conscupciência, ou seja, nosso inclinação original que temos ao pecado, que é nada mais do que uma consequencia das nossas más escolhas. Para Santo Agostinho a única forma de se proteger das tentações –  e com isso, comprometer nossa receptividade da graça – é a oração. Mas a oração em si é prova da graça! Nosso Santo Agostinho explica que: “nosso Mestre Celestial também diz: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. Mateus 26:41 Que cada homem, portanto, ao lutar contra sua própria concupiscência, ore para que não entre em tentação; isto é, que ele não seja desviado e seduzido por ela. Mas ele não entra em tentação se ele conquista sua má concupiscêncial pela boa vontade. Ainda assim, a determinação da vontade humana é insuficiente, a menos que o Senhor conceda-lhe a vitória em resposta à oração que não entre em tentação”. O que pode demosntrar mais, continua ele, a graça de Deus, do que aceitar a oração de petição? Se Jesus tivesse apenas dito; ” vigiai, para que não entreis em tentação” teria salientado a força da vontade humana. Mas ao acrescenter ” e orai” Ele demonstra que a vontade humana é fraca e necessita da oração, cuja aceitação ê uma dádiva divina. Assim o homem é assistido pela graça, a fim de que a sua vontade não seja inutilmente ordenada.

Na terceira parte deste artigo pretendo continuar essa reflexão monstrando que tanto a graça e como a liberdade humana são simultâneamente mandadas por Deus. Peço desculpas que tenha me extendido tanto. Confesso que tem sido um desafio escrever sobre o tema e o tempo requerido para a pesquisa ultrapassou minhas expectativas. Mas com a ajuda de Deus, espero continuar.

Até a semana que vem! Pax Domini.

2 replies »

  1. Hellen, estou lendo e relendo atentamente estas publicações sobre a concordância da Graça de Deus e a liberdade humana. Ficou claro que temos a escolhar entre Guardar ou não guardar os mandamentos de Deus. Este livro Graça e Livre Arbitrio de Santo Agostinho é de fácil acesso ???

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    • Ola Denilson,
      Desculpa a demora.
      Achei que já tinha respondido.
      O livro pode ser acessado às vezes na internet. Eu achei a versão em Inglês. Mas deve ter em Português.

      Logo volto com mais textos.

      Paz
      H.

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