Embora este seja um debate complexo e, mais importante ainda, embora eu não seja a pessoa mais indicada a discutí-lo, à pedido de um leitor, tentarei fazer aqui uma reflexão sobre o tema – infelizmente em duas, quisá, três partes, haja visto que o assunto requer mais espaço do que é recomendado para um único post… Antes de mais nada, aviso que estou de férias com a familia (aliás, na cidade de San Franciso, Califórnia. Um lugar muito necessitado de orações, aos amigos que quiserem rezar por esse lugar…) e sendo assim, continuo o post quando for possível. Aviso ainda que fiz uso de publicações católicas onde os conceitos de Sciencia Media, entre outros, foi utilizado. Esses conceitos são definidos aqui.
Primeiramente, devemos nos lembrar de que Deus não é parte do tempo ou espaço. Assim, Ele não está sujeito a nenhuma experiência de aprendizagem como nós criaturas estamos. Em segundo lugar, se Ele não possuísse conhecimento de tudo, sua onisciência infinita estaria sujeita à nossa consciência finita e limitada dentro do tempo. Isso faria Dele um ser dependente de nós para o conhecimento.
Então, sim, quando a escritura usou as palavras “Eu sou” para caracterizar Deus, isso coloca Deus no imediato “agora”, sempre. E não sujeito ao passado ou futuro, pois passado e futuro estão sujeitos ao tempo, e Deus não.
“Deus não tem que esperar no contingente do evento temporal do livre arbítrio do homem para saber o que será a ação deste; Ele tem conhecimento desta ação desde a eternidade. Contudo, a dificuldade é: como, do nosso ponto de vista finito, podemos interpretar e explicar a maneira misteriosa do conhecimento de Deus de tais eventos sem, ao mesmo tempo, sacrificar o conceito, ou pelo menos nosso entendimento do livre arbrítrio da criatura? ” (Publicação: Novo Advento)
Neste ponto, diferentes escolas de pensamento são utilizadas aqui para explicar a questão, tais como os dominicanos e jesuítas.
“A escola jesuíta, com quem provavelmente a maioria dos teólogos independentes concordam – usando da ‘sciencia media’ sustenta que devemos conceber o conhecimento de Deus das futuras ações livres não como sendo dependente e consequênte do decreto de Sua vontade, mas em seu caráter como conhecimento hipotético ou como sendo antecedente à elas. Deus tinha conhecimento na ‘sciencia media’ do que Pedro iria fazer em determinadas circunstâncias se ele recebesse determinada ajuda, e isso antes mesmo de qualquer decreto absoluto de dar essa ajuda seja suposto. Assim, não há predeterminação Divina daquilo que a vontade humana escolhe livremente, não é porque Deus tem conhecimento de antemão a respeito de um certo ato de livre escolha que este ato se concretiza, mas Deus prevê que, em primeira instância, como uma questão de fato que o ato vai acontecer. Ele o sabe como um fato objetivo hipotético antes que se torne um objeto da ‘scientia visionis’ – ou melhor, é assim que, a fim de salvaguardar a liberdade humana, devemos concebê-lo como sabê-lo.
Foi assim, por exemplo, que Cristo sabia o que teriam sido os resultados de seu ministério dentre os povos de Tiro e Sidão. Mas é preciso ter cuidado para evitar implicar que o conhecimento de Deus seja de algum modo dependente das criaturas, como se ele tivesse, por assim dizer, que aguardar o evento real no tempo antes de saber infalivelmente o que uma criatura livre pode optar por fazer. Desde a eternidade Ele sabe, mas não pressupõe a escolha da criatura. E se for perguntado como podemos conceber esse conhecimento para existir precedentemente e independentemente de algum ato da vontade divina, na qual todas as coisas contingentes dependem, só podemos dizer que a verdade objetiva expressa pelos fatos hipotéticos em questão é de alguma forma reflectida na Essência Divina, que é o espelho de toda a verdade, e que em saber Ele mesmo Deus sabe essas coisas também. Independentemente da forma como nós viramos, em última análise, somos obrigados a encontrar um mistério, e, quando há uma questão a escolher entre uma teoria que remete ao mistério de Deus e uma que só salva a verdade da liberdade humana, fazendo o livre-arbítrio em si um mistério , a maioria dos teólogos naturalmente prefiro a primeira alternativa. “
Pois bem, se isso parece muito complicado – é porque é mesmo. Mas é uma premiça que deve ser estabelecida, antes que possamos avançar na nossa reflexão. E como já passa da meia noite aqui no meu quarto de hotel, paro por aqui. Enquanto isso, reflitamos. Comentários serão bem-vindos. E nos vemos à continuação do tema, no próximo post!!
Paz
Categories: Apologética Católica
Helen, boa noite. Aguardava muito pela publicação destes artigos. Espero esclarecer algumas dúvidas que tenho sobre a Graça de Deus na vida humana.
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Ola Denilson,
Se Deus quiser, logo publico a segunda parte. AInda estou de férias. OCupada com a família, mas com a ajuda de Deus, logo virá a segunda parte.
Pax
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Helen,
O blog Apologistas Católicos publicou artigo “Pais da Igreja e O Livre Arbítrio”.
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