Apologética Católica

Cura e Libertação: Catolicismo ou Evangelicalismo?


Missa de Cura

A Ortodoxia não deve ser uma prática limitada a uma “elite” católica, favorável por exemplo ao Rito Tridentino, à celebração do Santo Sacrifício da Missa no Latim, etc… Ela é, na verdade, simplesmente a conformidade com as práticas retas da religião.  Assim, o católico ortodoxo é aquele que crê e pratica o que é  correto no catolicismo segundo o Magistério da Igreja e não segundo a sua própria opinião, ou aquela do seu pároco.

Assim, o post de hoje trata de investigar a “ortodoxia” de uma prática cada vez mais comum na Igreja católica, principalmente nos meios carismáticos: o ministério de “Cura da Árvore Genealógica”. Seria isto algo verdadeiramente católico ou apenas uma influência nascida do Evangelicalismo Protestante?

Uma breve explicação sobre o que é a crença de “cura da árvore genealógica se faz necessária, para que que não haja confusão com os conceitos de contrição e arrependimento do pecado, que por sua vez, geram a “cura” do espírito e restauram ao indivíduo as graças provenientes de Deus e promovem sua reconciliação com altíssimo.

Os adeptos da “cura genealógica” defendem que o indivíduo pode herdar tanto o hábito como a consequência dos pecados cometidos por seus antepassados. Assim, eles creem que uma pessoa e mesmo famílias inteiras, podem sofrer de uma determinada enfermidade ou vício não apenas como conta de suas própria ações, mas das ações pecaminosas dos seus familiares que partiram desta vida. Nesse sentido, eles creem que devem orar a Deus não apenas para a própria cura, mas para a cura dos mortos, para então serem libertos de seu sofrimento presente e futuro.

 O que a Igreja ensina sobre a “cura da árvore genealógica”?

Não há nenhum ensinamento do Magistério da Igreja sobre a cura espiritual de gerações passadas. De fato, essa crença contradiz o que a Igreja ensina a respeito dos Sacramentos do Batismo e da Confissão ou Reconciliação.

1213. O santo Baptismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida no Espírito(«vitae spiritualis ianua – porta da vida espiritual») e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. Pelo Baptismo somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão (4). «Baptismos est sacramentam regeneratiorais per aquam in Verbo – O Baptismo pode definir-se como o sacramento da regeneração pela água e pela Palavra» (5).

1227. Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Baptismo o crente comunga na morte de Cristo; é sepultado e ressuscita com Ele:

«Todos nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos baptizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele pelo baptismo na morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova» (Rm6, 3-4) (26).

Os baptizados «revestem-se de Cristo» (27). Pelo Espírito Santo, o Baptismo é um banho que purifica, santifica e justifica (28).

1228. O Baptismo é, pois, um banho de água, no qual «a semente incorruptível» da Palavra de Deus produz o seu efeito vivificador (29). Santo Agostinho dirá do Baptismo: «Accedit verbum ad elementum, et fit sacramentam – Junta-se a palavra ao elemento material e faz-se o sacramento» (30). (Catecismo da Igreja Católica)

A Igreja ensina que o único pecado herdado é o pecado original, que como vimos  é lavado pelas águas do batismo. Ela ensina ainda que pela confissão somos perdoados dos pecados cometidos após o batismo e através deste sacramento somos curados por Cristo. A Igreja ensina que se por meio do batismo somos “revestidos” de Cristo e purificados e recebemos a vida nova de Cristo, pelo pecado podemos podemos enfraquecê-la e até perdê-la. Assim a Igreja administra um verdadeiro Sacramento de Cura, o Sacramento do Reconciliação, pela confissão sacramental.

1421. O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos corpos, que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo (Cf. Mc, 2, 1-12.) quis que a sua Igreja continuasse, com a força do Espírito Santo, a sua obra de cura e de salvação, mesmo para com os seus próprios membros. É esta a finalidade dos dois sacramentos de cura: o sacramente da Penitência e o da Unção dos enfermos.

Assim, de acordo com os ensinamentos da Igreja, se aceitarmos a chamada “cura genealógica”  como uma prática necessária porque espíritos malignos são passados de uma geração para outra, somos também  obrigados a rejeitar os Sacramentos do Batismo e da Reconciliação administrados pela Igreja Católica. Estaríamos de certa forma a rejeitar, por exemplo, o poder da prece do exorcismo  recitada no ato do batismo, bem como o poder da prece de absolvição recitada no confessionário ao penitente verdadeiramente contrito, pois não é possível acreditar ao mesmo tempo nos Sacramentos do Batismo e Reconciliação e na necessidade da “cura genealógica”.

Entretanto, a “teologia” da cura genealógica, inicialmente nascida do protestantismo e agora difundida entre católicos leigos e sacerdotes,  parece buscar suporte em Escrituras como Êxodo 34: 6-7 e 20:5-6 ou ainda Deutoneurônio  5:9-10  para defenderem sua crença. O problema com esse argumento é que nessas passagens Deus dirigi-Se diretamente à Nação judia com relação à sua idolatria, não à indivíduos. Por seu papel especial na história da Salvação, o povo Judeu tinha também uma responsabilidade especial, deveria ser um bom exemplo para outras nações, o luzeiro do mundo. Assim, Deus prometeu castigar os pecados de toda a nação, até mesmo as gerações futuras, até que arrependessem de seu pecado e honrassem a aliança feita com Deus de ser o Seu povo. O povo Judeu deveria cumprir seu papel perante todas a nações e ser um povo santo, assim como Deus é Santo.  Um estudo mais aprofundado da Bíblia, como as profecias do livro de Ezequiel 38, por exemplo, mostra que a punição à Israel vem também com a renovação de uma promessa que Deus fizera já no livro do Gênesis, de enviar um Salvador, o Santo de Israel, por meio de quem todos os pecados seriam perdoados, e até os gentios seriam salvos, nosso Senhor Jesus Cristo.

Assim, todo o foco de nossa cura deve estar concentrado na fé e confiança no poder restaurador de Cristo. Se pelo pecado nos afastamos de Deus e com isso sofremos de aflições tanto físicas como espirituais, em Cristo e só nele, encontramos o perdão e a cura das nossas enfermidades.

Não rejeitemos, contudo, o poder da oração, da oferta de Missa e do ato sincero de contrição. Mas, saibamos que somos responsáveis apenas pelos próprios pecados e por causa deles sofremos. Isso não deve nos impedir de oferecer orações e sacrifícios para a conversão daqueles em nossa família que por ventura ainda não reconciliaram com Deus e vivem na escuridão do pecado, pois o pecado grave nos aparta de Deus e causa  a morte (espiritual), como vemos em Ezequiel 18:

 O pai, que praticou a violência, que roubou e maltratou o seu povo, é que deverá morrer por causa do seu próprio pecado.19.Mas ainda perguntais: “Porque é que o filho não é castigado pelo pecado do pai?” Ora, o filho praticou o direito e a justiça, guardou os meus estatutos e pô-los em prática. Por isso, ele permanecerá vivo.20.O indivíduo que peca, esse é que deve morrer. O filho nunca será responsável pelo pecado do pai, nem o pai será culpado pelo pecado do filho. O justo receberá a justiça que merece e o injusto pagará pela sua injustiça.21.Se o injusto se arrepende de todos os erros que praticou e passa a guardar os meus estatutos e a praticar o direito e a justiça, então permanecerá vivo, não morrerá.22.Todo o mal que ele praticou nunca mais será lembrado, e permanecerá vivo, por causa da justiça que praticou

7 replies »

  1. Olá, Helen!
    É muito pertinente trabalhar temas como este. A propósito, falando em protestantes e batismo, gostaria de divulgar meu artigo a esse respeito: http://oandarilho01.wordpress.com/2011/06/02/desde-pequeno/

    Sobre este assunto, digo o seguinte:
    Apesar de uma exegese mais cautelosa poder recusar esta hipótese, não seria possível compreender as declarações acerca das gerações, feitas nos versículos do antigo testamento citados, como a ocorrer num mesmo momento da história? Quero dizer: considerando-se o contexto cultural daquela época e a própria qualidade de vida e longevidade dos homens, acho que seria possível existir, naquele momento (e no mesmo momento), várias gerações de uma mesma família, ou seja, um patriarca que fosse já avô ou mesmo bisavô.
    Assim, o aviso de que poderia haver punição para filhos e netos de quem agisse contra Deus, faria referência àqueles já nascidos mesmo. Até porque a família, não raras vezes (e mais ainda naquela forte cultura), participa tanto das boas como das más ações de seus membros.
    É só uma proposta.

    Contra esta “teologia” há também as palavras de N. S. Jesus em Jo 9, 1-3, quando ele afirma que o mal daquele cego não foi culpa nem dele NEM DE SEUS PAIS.

    Paz e Bem

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  2. Pelo amor de Deus, socorro!!! Loucura. A coisa é mais séria do que imaginava. Obrigado pelo alerta, quando chega na Canção Nova a coisa ganha propaganda, divulgação e o absurdo de se dizer que isso é católico, irei colocar no face e ver se consigo alertar meus amigos e conhecidos! Nossa Senhora nos proteja.
    Fique com Deus e Nossa Senhora Helen.

    In Jesus et Mariae

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    • Herbert,

      Pois é, eu também me assusto com isso…Mas fica tranquilo, a situação está nas mãos de Deus. Ele sabe o que faz.

      Pax Domini,

      H.

      Ps. Divulgue o link do post, por favor. Isso nos ajuda imensamente!

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  3. Boa tarde Helen, Paz e Bem.

    O tema mostra algo que nem imaginava que estava acontecendo, essa cura da árvore genealógica fez-me comparar com o espiritismo que defende que morremos e nascemos sucessivas vezes para purificação, parece ser uma linha histórica de purificação; o tema tratado parece ir no caminho contrário, sem se “purificar nascendo sucessivas vezes, mas procurando atingir os antepassados, todavia abre brecha para um pensar “espírita”, pois apesar de serem diferentes e sem o auxílio teológico ortodoxo acerca disso, a pessoa que vive esse tipo de prática, para pular para o espiritismo corre grande risco, basta ter um espírito sincretista e pode acabar achando possível o raciocínio espírita. Purificar “encarnando” ou não pode, para esses que praticam a tal cura da árvore, algo a ser admitido, não sei se eles chegaram a esse ponto, mas se surgir algo por perto de mim na paróquia, deverei observar e analisar, a priori eles não irão querer ouvir que é algo errado, pois hoje em dia até Yoga está nas paróquias e nos salões comunitários das igrejas, discutir uma prática protestante/espírita dentro da igreja precisaria do auxílio do padre… e isso onde moro, de base TL, é muito difícil, pois tais práticas acabam criando campo socializador e materializador da libertação da Igreja papista, como muitos da TL defendem abertamente ou não. Acho importante levantar esses temas e elucidar sobre essas “modas sincretistas” que surgem do nada e para nada ajudar na espiritualização dos verdadeiros católicos. Rezemos para que volte a catequese como outrora era ensinado, nos moldes de um São João Bosco e São Francisco de Sales, precisamos urgente disso! Abraços.

    In Jesus et Mariae.

    Hebert Rezende.

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  4. Bom tema, interessante; mas não concordo que o primeiro parágrafo agressivo contra os que seguem o rito tridentino; eu sigo, leio de diversas fontes que inclusive não demonstram simpatia pelo rito e deixam o respeito pela missa tridentina como um mero cumprimento do Motu Proprio… bem, acredito que se prega com isso a separação por meio da agressividade sem o recurso de uma análise crítica de crise que ambos os grupos sabem que está acontecendo, mas cujo foco não está sendo a análise dos documentos pré-conciliares e os conciliares de finalidade não-dogmática. Se o propósito é defender viver o CVII, que viva em sua integridade sem criar ascos estranhos ao ensinamento da Igreja e comparara com todo o magistério ( não pode haver contradição entre os concílios, se houver, impera o concílio dogmático), isso é o livre arbítrio que todos tem, pois o CVII possui essa finalidade de dizer que é um super dogma que ab-rogou todo o magistério passado, pois é um erro que o Cardeal Ratzinger denunciou na época que era Prefeito de Doutrina e da Fé. O CVII é um concílio moderno adequado ao mundo atual com todos os seus sintomas presentes, mas cuja solução dos desastres presentes se encontra no magistério perene da Igreja constante em toda a doutrina definida e infalível, portanto como o post acima apontou esses problemas presentes encontraram força dentro do contexto do CVII, pois se não estivéssemos com essa sistemática “apostólica moderna” achas que teríamos o sincretismo pentecostal nas paróquias do Brasil? Garanto que não, pois tudo produzido anterior ao CVII é contrário ao que hoje ocorre, negar isso é viver uma mentira.; prática é realidade e quando vou comungar em uma paróquia de rito ordinário dificilmente não se nota isso vivo e bradado como verdade constante. Vamos refletir, já vivi o momento CVII, estudei e fui prático como o Papa Paulo VI: ” fumaça de Satánas adentrou a Cátedra de Pedro” e aí está presente. Se em algum momento fui agressivo nessa mensagem, peço que me desculpe, a finalidade não é essa e estou aberto a ouvir, somente não poderei admitir a idéia que todo grupo que chama o CVII de super dogma que sou cismático, o atual Papa já resolveu essa dúvida quando era cardeal de forma magistral, eu o sigo e Deus abençõe o Santo Papa e o torne santo para a vinda do Reino de Nossa, e se não for ele, rezemos que surja um Papa Santo para se concretizar ” Por fim Meu Imaculado Coração Triunfará”.
    Salve Maria.
    In Jesus et Mariae

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    • Olá Herbert,

      Que bom que gostou do tema. O paragrafo sobre os católicos tradicionais e adeptos do Rito Tridentino ( eu mesma gosto da missa em Latim, etc..) não tem o objetivo de agredir ou criticar, na verdade, queria apenas salientar aos católicos carismáticos e aos não-praticantes que ser ortodoxo não é coisa de “tradicionalista”,mas de todo católico.

      Obrigada pela participação,

      Pax Domini,
      H.

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