Muitos protestantes de hoje, especialmente evangélicos, fazem objeções à vários ensinamentos da Igreja Católica. Mas acima de tudo, para eles, a afirmação de que a Igreja Católica seja a guardiã final da Revelação Divina na Terra, pode soar não apenas ofensiva, mas arrogante. O fato é que a Igreja Católica de fato afirma não apenas ser a guardiã da Verdade Divina revelada aos Apóstolos, mas ainda que ela tenha recebido essa autoridade do próprio Cristo.
Muitas questões secundárias emergem apartir dessa divergência, ou seja, a rejeição dos Cristãos protestantes em aceitarem como válida a alegação Católica quanto sua autoridade; como por exemplo, o questionamento da necessidade e mesmo da existência dos Papas, ou simplesmente a autoridade de um sacerdote de perdoar os pecados. Entretanto, é importante salientar que essa visão do protestantismo nem sempre existiu, e a postura atual contraria até mesmo o ponto de vista de alguns dos ‘Pais do Prostestantismo’:
Pastores e mestres são responsáveis pela interpretação das Escrituras para manter toda a doutrina pura e entre os crentes (Livro 4 3 4 -.. Reformador Protestante João Calvino)
Admitimos, portanto, que os pastores são Eclesiástica de ser ouvida apenas como o próprio Cristo. (João Calvino – carta para Sadoleto)
“Eles são uma potência, um comando dado por Deus através de Cristo para toda a cristandade para a manutenção e remissão dos pecados dos homens. ‘” (Reformador Protestante Martinho Lutero sobre a confissão, 1531)
Por outro lado, Cristãos não Católicos rejeitam a necessidade de uma autoridade Eclesial, e difundem até mesmo que Cristo tenha pregado contra a religião instituída. Ao lado dessa crença, vemos também que cristão não Católicos aceitam somente a Bíblia como autoridade do Cristão, mesmo que a própria Bíblia não diga isso.
Entretanto, antes de continuar a minha abordagem, por uma questão de clareza, uma vez que muitos não-católicos falta algum entendimento básico do que o catolicismo realmente ensina, é preciso para lidarmos com alguns conceitos fundamentais, a fim de tratar deste tema corretamente:
I-Autoridade Eclesiástica
II-Sucessão Apostólica
Sempre que alguém diz “este” ou “aquele” ensinamento ou doutrina da Igreja Católica não é bíblico, para facilitar a discussão, devemos considerar alguns pelo menos dois pontos importantes:
1 – O surgimento da Bíblia Sagrada – Por quase 400 anos o Cristianismo não tinha uma Bíblia, de fato, por mais de mil anos após a Bíblia ter sido compilada pela Igreja Católica, até a imprensa ter sido inventada, haviam ínfimas cópias da Bíblia disponíveis. Imaginemos o contexto do mundo daquela época, onde quase a totalidade da população mundial era analfabeta e pobre. Escusado será dizer que os poucos felizardos que possuíam uma Bíblia eram uma minoria rica, privilegiada e alfabetizada.
Isto certamente deve levar qualquer pessoa sensata a se perguntar: como é que os primeiros cristãos, especialmente aqueles que viveram nos primeiros séculos do cristianismo, aprenderam o Evangelho se não havia Bíblia?
A história nos diz que eles tiveram que contar com a Tradição Oral, que foi passada para eles inicialmente pelos próprios Apóstolos e em seguida, por seus discípulos. Isso é o que a Igreja Católica chama Sagrada Tradição (com T maiúsculo), que alguns não católicos preferem chamar de “tradição humana”.
2 – A Igreja declara que ela é Apostólica – isto é um fato historicamente documentado e pode ser comprovado (por exemplo, podemos nos referir ao documento mais antigo do cristianismo, a Didaqué , Os Ensinamentos dos Doze, 50 dC, descoberto em 1886 na Turquia). E por ser Apostólica, a Igreja afirma portanto, que seus ensinamentos são infalíveis. E finalmente, na Igreja sua condição de Apostólica, ela proclama também que sua autoridade vem de Cristo.
Mas como podemos confirmar tudo isso? Pela Bíblia Sagrada, mas também através registros históricos deixados pelo Pais da Igreja.
O Evangélio nos mostra que Jesus Cristo fundou sua Igreja por meio dos Seus Apóstolos, Simão Pedro ou Cefas, tornou-se o primeiro bispo* da Igreja primitiva (* o termo usado na versão original da Bíblia, em Grego, é na verdade episcopos, palavra da qual se origina o termo bispo em Português). Portanto, como bispo encarregado a Igreja, São Petro foi também o primeiro Papa Católico (lembremo-nos que Papa significa ‘pai’ em Latim, e também vem de uma expressão grega. O termo pai aprece na Bíblia não apenas em referência o Pai Celestial ou pais biológicos, mas no sentido de pai espiritual, como usado por S. Paulo em 1 Cor 4, 14 -15). Ainda dentro do caráter Apostólico da Igreja, consideremos também as promessas de Jesus aos Seus Apóstolos:
“Então Jesus disse-lhes: Toda a autoridade no céu e na terra foi dada a mim. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a observar tudo quanto vos tenho mandado. E eis que estou convosco todos os dias, ao final da época.” (Mateus 28:18-20).
Antes de apresentar mais evidências para sustentar as afirmações da Igreja Católica, façamos uma análise da última frase em Mateus 28, 20:
Por que Jesus diria ‘Eu estarei sempre convosco, até ao final dos tempos’? Certamente, Jesus sabia que os Apóstolos, como o resto de nós, iriam expirar (morrer) um dia. Isto significa que a Sua promessa não aplicava apenas aos próprios Apóstolos, mas também aos seus discípulos ou sucessores. Pois como sabemos Jesus, lhes havia ordenado a fazer em discípulos em todas as nações. Claramente, Jesus, em Sua sabedoria Divina, profetiza nessa frase a história da sucessão Apostólica da Sua Igreja.
Pois bem, em seguida vemos Jesus prometendo aos Apóstolos toda a sabedoria necessária para ensinar a Verdade:
“Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.”(Jo 16,12-13)”
Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Paráclito, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que provém do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio. (Jo 14:25-26; 15:26-27)
Eis, portanto, de onde provém a garantia da autoridade da Igreja Católica e Apostólica, bem como o conforto quanto a veracidade dos seus ensinamentos. Porque a Verdade do Evangelho foi recebida sem erro pelos Apóstolos, que por sua vez, transmitiram-na sem erro para os seus discípulos (2 Timóteo 2:2), que são os sucessores que mais tarde formaram a Igreja Católica no século 1 dC , como Santo Inácio de Antioquia, que era discípulo do Apóstolo João e se tornou o bispo católico de Antioquia. A Igreja Católica e Apostólica preservou os ensinamentos Apostólicos ao longo dos séculos, e seu discernimento sobre dogmas e doutrinas vem do Espírito Santo, conforme a promessa de Jesus, e estão, portanto, livre de erros.
Além disso, Jesus disse: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio. (Jo 20:21).
Ou seja, depois de conceder a autoridade aos Seus Apóstolos e assegurar-lhes toda a sabedoria proveniente do Espírito Santo, Jesus deixa claro que a Sua Igreja, a qual Ele edificara por meio de Pedro, Sua Rocha, deveria ser nada menos do Ele mesmo fora para todos nós, nossa grande Mestra. Eis o caráter Magistério da Igreja Católica.
Nossos irmãos protestantes muitas vezes argumentam que Jesus na verdade passou Sua autoridade a todo o corpo de crentes que iam mais tarde se tornariam a Sua Igreja, não apenas aos Apóstolos, como afirma o entendimento Católico. Entretanto, não é isso que a Bíblia nos diz.
Quando fez Sua promessa Jesus falava aos Seus Apóstolos, e não às multidões. Quisesse Ele que o Magistério da Igreja fosse incumbido a todo o corpo de crentes, Jesus o teria dito a todos os crentes, ou ordenado aos Apóstolos que fizessem isso. Ele não fez nem uma coisa nem outra.
Além disso, nós podemos claramente verificar como os Apóstolos abraçaram este Magistério dado a eles na própria Bíblias. S. Paulo fala trata desse tema em suas cartas, quando diz que apenas alguns foram colocados na Igreja, como mestres, não todos (1Cor 12:28-29).
Com efeito, ainda que tivésseis dez mil mestres em Cristo, não tendes muitos pais; ora, fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho. (1 Cor 4, 15)
Categories: Reforma Protestante - Doutrinas
Os adventistas do sétimo dia levantam dezoito objeções contra o Catolicismo, baseadas em falta de conhecimento da história do Cristianismo e preconceitos que não resistem a uma análise criteriosa.
Um leitor enviou à Redação de PR uma lista de dezoito razões pelas quais alguém não se pode tornar católico. Trata-se de Objeções mal fundamentadas e preconceituosas, ás quais não é difícil responder, como se verá abaixo. Não há dúvida, a polêmica religiosa não é desejável. Mas também é certo que não se pode deixar de atender ao povo de Deus quando este pede resposta a ataques dirigidos contra a sua fé. Eis por que passamos a analisar as razões alegadas pelos irmãos adventistas.
1) “Não sou católico, porque Jesus disse: ‘Examinai as Escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna e são elas que de Mim testificam’ (João 5,39). Se é pelas Escrituras e pelos ensinos de Jesus que alcançamos a salvação, exclui-se que o seja pelo Catecismo Romano”.
Em resposta observamos:
a) Não á oposição entre as Escrituras e o Catecismo. Este é um compêndio da doutrina contida nas Escrituras, redigido com fins didáticos ou a fim de facilitar a iniciação nas verdades da fé.
b) O estudo do Catecismo leva à leitura do texto bíblico, pois o cita freqüentemente e mostra o valor da Palavra de Deus.
c) Toda denominação protestante tem seu manual de doutrina e seus livros usuais, que ajudam a assimilar e praticar a mensagem bíblica. Os reformadores protestantes redigiram seus Credos ou suas profissões de fé, tencionando assim exprimir a doutrina das Escrituras; tenha-se em vista, entre outras, a Confessio Augustana de Lutero.
2) “Não sou católico romano, porque, sendo a religião cristã fundada por Jesus Cristo, durante uns 200 anos divulgada sem modificações nem acréscimos, surgiram de lá para cá novas doutrinas, falsificações de toda sorte de cerimônias estranhas ao Novo Testamento que foram discutidas em concílios e aprovadas por homens, nascendo daí a Igreja Católica Romana. ‘Mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais à criatura do que ao Criador, que é bendito eternamente’ (Romano 1,25)”.
Em resposta observamos que a objeção é assaz vaga:
Por que em 200 ou aproximadamente em 200 começaram as inovações do Cristianismo? Quem lhes deu início? Que modificações e falsificações foram essas? Pode-se compreender que, no decorrer dos tempos, os cristãos tenham deduzido, da doutrina apregoada por Jesus pelos Apóstolos, conclusões contidas nas premissas do Novo Testamento; essas conclusões referiam-se, por exemplo, à divindade do Logos, negadas pelo arianismo e definida no Concílio de Nicéia I em 325; referia-se ao mistério da Encarnação e foram promulgadas pelos Concílios de Éfeso (431) e de Calcedônia (451), que afirmaram haver em Jesus uma só Pessoa (um só eu) divina e duas naturezas (a humana e a divina)… Era necessário que os cristãos procurassem guardar a pureza da doutrina revelada no tocante a estas e outras grandes verdades da fé. Estas estavam contidas no Novo Testamento sob força de semente, que aos poucos foi homogeneamente desabrochando suas virtualidades. Também se compreende que a Liturgia se tenha desenvolvido, pois é a oração do povo de Deus expressa mediante os elementos culturais desse povo.
De resto, pode-se redargüir: no século XVI a doutrina dos cristãos ocidentais e orientais foi drasticamente modificada pela reforma protestante, que inovou o Credo apregoado até então. As modificações introduzidas pelo protestantismo foram autênticos desvios; tenha-se em vista, por exemplo, a recusa da presença real de Jesus Cristo na Santa Eucaristia, que os escritos do Novo Testamento professam com grande ênfase; ver João 6,24-58; Mateus 26,26-28 e paralelos. Tenha-se em vista, outrossim, a tentativa adventista de definir a data do advento ou da segunda vinda de Cristo, data que o Senhor Jesus recusou peremptoriamente revelar; conforme Marcos 13,32; Atos 1,7. Tal tentativa foi frustrada pelo desenrolar mesmo dos acontecimentos.
3) “Não sou católico porque, ao examinar as Escrituras, nunca encontrei o ‘Ofício da Missa’. Não encontrei porque o ‘Ofício da Missa’ foi composto pelo Papa Gregório I uns 600 anos após Cristo”.
Em resposta perguntamos: que é esse “Ofício da Missa”? – Deve-se tratar da Liturgia Eucarística, que não é senão a execução da ordem do Senhor Jesus: “Fazei isto em memória de mim” (Lucas 22,19; I Coríntios 11,23-25). A missa é celebração da Ceia do Senhor e a perpetuação da sua morte e ressurreição. Ela tem sua origem nos escritos no Novo Testamento e não em 600. Já em 56 São Paulo, escrevendo a I Coríntios, dava instruções relativas à Ceia do Senhor ou estruturava desde então o ‘Ofício da Missa’. O Papa São Gregório Magno (+604) continuou a obra normativa do Apóstolo.Aliás, é de notar que o ‘Ofício da Missa’ existe não só entre os católicos ocidentais, mas também entre os cristãos ortodoxos orientais, que desenvolveram sua Liturgia própria. Somente a partir do século XVI existem correntes de cristãos que negam o valor sa Santa Missa.
4) “Não sou católico romano porque não encontrei uma passagem no Novo Testamento apresentando algum dos apóstolos num altar incensando imagens. Pois o culto de imagens foi declarado pelo II Concílio de Nicéia (787 depois de Cristo)”.
Respondemos:
A objeção é clássica. A Lei de Moisés proibia fazer imagens para adora-las (conforme Êxodo 20,4-6). Ocorre, porém, que o próprio Deus mandou confeccionar querubins no templo de Salomão (I Reis 6, 23-30). Uma vez passado o perigo da idolatria e depois que Cristo nos apareceu como a imagem viva do Pai (conforme Colossense 1,15), os cristãos não hesitaram em pintar e esculpir imagens tanto para fins didáticos e catequéticos como para ajudar a mente a se elevar a Deus, passando do visível ao invisível. Os antigos cemitérios cristãos (catacumbas) atestam esse costume, que se protraiu até o século VII. Nesta época, por influência de judeus e maometanos, desencadeou-se a controvérsia iconoclasta (quebra de imagens); os cristãos ortodoxos lutaram corajosamente para atender seus ícones. O Concilio de Nicéia II em 787 apenas confirmou o costume antigo: as imagens podem ser veneradas, não adoradas… e veneradas não por serem gesso ou madeira, mas porque representam o Senhor Jesus e seus Santos. O culto das imagens é relativo às pessoas que elas recordam. Também neste particular o protestantismo está isolado, contra toda a Tradição ocidental e oriental. Incensar uma imagem (cerimônia muito freqüente entre os ortodoxos orientais) significa reverenciar o Santo por ela representado.
5) “Não sou católico romano porque não encontrei um trecho no Novo Testamento que fale ter ocorrido na Igreja Primitiva alguma procissão eucarística. Não encontrei, porque começou após 1360 anos depois de Cristo”.
A resposta começara por lembrar que as procissões têm fundamento bíblico; a Arca da Aliança do Senhor foi processionalmente transportada por Davi para Jerusalém (II Samuel 6,12-17). Ora, se a Arca da Aliança mereceu um cortejo tão solene da parte dos israelitas, muito mais a Eucaristia deve ser estimulada e celebrada publicamente pelos cristãos. Aliás, a data de 1360 é falha. As procissões eucarísticas tiveram início no século XIII, com a finalidade de proclamar solenemente a real presença de Jesus na Hóstia consagrada.
6) “Não sou católico romano porque não encontrei um texto sequer em que a Bíblia recomende o uso do Rosário. A razão que encontrei, é que apareceu com Pedro Eremita em 1090 depois de Cristo”.
Respondemos que o rosário, em grande parte, não é mais do que a recitação de preces bíblicas: Pai Nossa (Mateus 6,9-12) e a primeira parte da Ave Maria (Lucas 1,29,42). Aos poucos foi-se organizando essa maneira de utilizar a Bíblia para orar, fazendo que a mente do orante se ocupe com as grandes verdades Redenção enquanto os lábios proferem as palavras da oração. A organização do ritual e do modo de orar corresponde a uma necessidade humana. Cada denominação protestante possui seus Hinários e livros de oração. Tenha-se em vista especialmente o Book of Common Prayer (Livro de Oração Comum) promulgado pelo rei Eduardo VI em 1549 e revisto em 1552.
7) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia Sagrada um mandamento que proibia o casamento dos ministros da religião. A razão por que não encontrei, é que foi proibido pelo Papa Gregório VII em 1074 depois de Cristo. A Bíblia diz que o Bispo deve ser marido de uma só mulher (1 Timóteo 3,2)”.
Os irmãos protestantes, que tanto lêem a Bíblia, não parecem conhecer o texto de 1 Coríntios 7,25-35, em que São Paulo recomenda a vida una ou indivisa (celibatária) como a condição mais favorável para servir a Deus: “quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido” (I Coríntios 7,32-34). Na base dessa intuição os ministros do culto cristão foram abraçando espontaneamente o celibato. Os Concílios e os Papas sancionaram o costume, tornando-o lei da Igreja, muito consentânea com o pensamento do Apóstolo.
O Papa Gregório VII não fez senão reafirmar quando as leis da Igreja prescreviam.O texto de I Timóteo 3,2 deve ser entendido dentro do seu contexto histórico: em 63 (?) o Apóstolo escrevia a uma comunidade em que só havia adultos convertidos; dentre esses adultos São Paulo quer que sejam ordenados aqueles homens que só tenham uma esposa, e não viúvos casados de novo. Os dizeres do Apóstolo, em vez de incitarem ao casamento dos clérigos, impõem uma certa restrição: dois casamentos sucessivos, ainda que legítimos excluiriam da ordenação o candidato.
8) “Não sou católico romano, porque não existe a palavra purgatório na Bíblia, mas foi confirmado pelo Concílio de Trento em 1563 depois de Cristo, ou seja, antes disso nenhuma alma ia ao purgatório, pois ainda não havia sido criado pelo Papa”.
Respondemos que a crença na existência do purgatório nunca foi criada por um Concílio, pois é crença que já os judeus antes de Cristo professavam. Com efeito, é atestada pelo livro II Macabeus, capítulo 12, vv. 39-45. Verdade é que a Bíblia dos protestantes não contém esse livro,…e não o contém porque Lutero o retirou do catálogo escriturístico. Sim; os dois livros dos Macabeus foram controvertidos pelos cristãos nos primeiros séculos, pois os judeus da Palestina não os reconheciam, ao contrário do que faziam os judeus da Alexandria. Prevaleceu na Igreja o cânon alexandrino, de modo que, após a fase de hesitação, em 393 o Concílio regional de Hipona promulgava o cânon bíblico incluindo os dois livros dos Macabeus. Assim por toda a Idade Média não se punha em dúvida a canonicidade de 1/2Mc. No século XVI, porém, Lutero houve por bem adotar o catálogo dos judeus da Palestina, retirando da Bíblia conseqüentemente os 1/2 Mc. Mas mesmo os irmãos que não reconhecem a canonicidade de 1/2 Mc, podem tomar consciência de que a crença na existência do purgatório é algo de pré-cristão, professado pelo povo de Deus do Antigo Testamento. A Igreja não criou o purgatório.
De resto, este artigo de fé é muito lógico. Com efeito; todo pecado, mesmo depois de absolvido, deixa resquícios de si na alma do pecador; a absolvição perdoa a culpa, mas não apaga as más tendências alimentadas pelo pecado. Ora o cristão é chamado a ver Deus face-a-face (I Coríntios 13,12); todavia na presença de Deus não pode subsistir a mínima sobra de pecado; por isto, se o cristão não extingue as raízes do pecado nesta vida terrestre, deveria fazê-lo na vida póstuma, não mediante fogo, , mas através de uma amor a Deus mais forte e puro, apto a apagar qualquer escória de amor desregrado. Rezar pelas almas do purgatório é pedir a Deus que fortaleça o amor existente nessas almas, tornando-o capaz de extirpar qualquer tendência desordenada, para que possam, sem demora, gozar da visão da Beleza infinita face-a-face.
9) “Não sou católico romano pois o Novo Testamento não apresenta ministros aspergindo água benta em caixão de morto nem cobrando por isso. Essa prática foi criada pela Igreja Católica Romana no ano 1000 depois de Cristo”
A água benta é um sacramental, que lembra o Batismo; aspergi-la sobre um cadáver significa pedir a Deus que receba quanto antes a respectiva alma no regaço da visão beatífica. Esse tipo de oração tem nome próprio de “sufrágio (voto, anseio) em favor dos mortos”; seja entendido à luz do que foi dito em resposta à oitava objeção. Quanto às espórtulas do culto sagrado, vêm a ser a maneira como os fiéis colaboram com a Igreja no plano material. Não devem constituir condição absoluta para a prestação de serviços religiosos. Hoje em dia a Igreja preconiza o dízimo em lugar das espórtulas, a fim de separar claramente dinheiro e culto divino. Os protestantes cobram o dízimo com muita freqüência.
10) “Não sou católico romano porque não encontrei na Palavra de Deus que se deva orar e render culto aos santos e aos anjos. Isso foi criado pela Igreja católica no ano 788 depois de Cristo e o culto das imagens foi decretado pelo 2º Concílio de Nicéia em 787 depois de Cristo. Apoc. 22:8 e 9”.
Não resta dúvida, existe um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo. Acontece, porém, que Ele quer comunicar sua ação mediadora aos fiéis. A prova disto é que os irmãos na Terra pedem aos seus semelhantes que orem por eles ou exerçam a função de mediadores São Paulo mesmo solicitava aos fiéis que rezassem por ele; conforme Efésios 6,19; Colossenses 4,3. O Senhor nos fez responsáveis pela salvação uns dos outros, e essa responsabilidade é posta em prática mediante a oração (e a ação apostólica). A comunhão que assim nos une e que é devida ao fato de que somos membros de um só Corpo, cuja Cabeça é Cristo, não é dissolvida pela morte; os justos no céu “torcem” pelos irmãos que ainda lutam na terra; Deus lhes dá a conhecer nossas necessidades e permite assim que intercedam por nós. Essa crença também pertence ao patrimônio religioso do Antigo Testamento. Em II Macabeus 15,12-16 lê-se que o profeta Jeremias já falecido orava por seus irmãos na Terra: “Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito ora pelo povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”. Infelizmente Lutero retirou este livro da Bíblia Sagrada.
É de notar que os justos no além não estão adormecidos, mas conservam toda a lucidez de espírito para poderem ajudar-nos na procura do prêmio celeste. Por conseguinte, é certo que não foi em 788 que começou a invocação dos Santos na Igreja. Ele brota do coração do fiel (já do fiel judeu), que sabe existir entre nós uma santa comunhão, que nos faz solidários para além da morte.
11) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia outro intercessor entre Deus e o homem fora de Jesus Cristo: 1 Timóteo 2:5. Portanto, se torna impossível que ‘Santa Maria” possa regar por nós pecadores. Só Jesus roga, intercede, media por nós”.
A resposta a esta objeção já foi formulada no item anterior. Seja aqui registrado o papel muito significativo que Jesus atribuiu a Maria Santíssima quando a constitui Mãe dos Homens ao entregar-lhe João como seu filho; conforme João 19,25-27. Na qualidade de Mãe, Maria não pode deixar de ser especial intercessora em favor da humanidade e ela confiada. Note-se, aliás, que o primeiro milagre de Jesus foi realizado em Cana por intercessão de Maria Santíssima; conforme João 2,1-11. Na comunidade dos Santos a Virgem Maria, ocupa uma posição muito particular.
12) “Não sou católico romano porque não encontro na Bíblia Sagrada a ‘confissão auricular’. A razão é que essa modalidade de confissão foi estabelecida como doutrina pelo Concílio de Latrão em 1215 depois de Cristo”
A confissão auricular tem seu fundamento no Evangelho mesmo. Com efeito, na noite do primeiro dia da semana (domingo de Páscoa), Jesus apareceu aos seus discípulos, soprou-lhes a face e disse: “Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (João 20,19-23). Jesus assim confiou aos seus ministros a faculdade de perdoar os pecados alheios não porque sejam mais santos, mas porque recebem especial carisma do Espírito Santo. O Senhor admite também que o seu ministro não possa absolver o penitente por falta de disposições (propósito firme de evitar as ocasiões de pecado) da parte deste. Ora, para que o ministro possa exercer o ministério de absolver ou não absolver, deve conhecer a situação íntima do penitente – o que só pode ocorrer mediante uma confissão secreta ou auricular. A Igreja compreende todo o alcance das palavras do Senhor e põe em prática o sacramento da Reconciliação, incluindo a confissão secreta dos pecados ao Bispo ou ao presbítero. Tal história se acha delineada no PR 473/2001, pp.460-472.
O Concílio de Latrão IV apenas confirmou a prática, preceituando a confissão dos pecados ao menos uma vez por ano.
13) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia a ‘Transubstanciação’, doutrina da Hóstia transformada no corpo de Cristo. Esta inovação também foi criada no Concílio de Latrão no ano 1215 depois de Cristo”.
É estranho que um assíduo leitor da Bíblia não tenha encontrado aí a doutrina da conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo. Na verdade, nada há de mais claro do que esta doutrina expressa em Mateus 26,26-28; Marcos 14,22-25; Lucas 22,19; I Coríntios 11,23-25: entregando o pão aos discípulos, disse o Senhor: “Isto é meu corpo” e, entregando o vinho, disse: “Isto é meu sangue”. Além do que, em João 6,51-58 Jesus promete dar sua carne e o seu sangue como alimento espiritual; ver especialmente João 6,51: “O pão que eu darei, é a minha carne para a vida do mundo”.
Por conseguinte a doutrina da conversão eucarística está no Evangelho. A teologia medieval apenas criou o vocábulo técnico “transubstanciação” para designar a mensagem bíblica.
14) “Não sou católico romano porque a Bíblia diz que, se alguém tirar ou acrescentar alguma palavra das Escrituras, Deus fará vir sobre ele as pragas escritas nesse Livro, ‘e Deus tirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade Santa’ (Ap 22:18-19; Deut 4:2,12 e 32)”.
Antes do mais, uma observação se impõe: quando São João escreveu o Apocalipse, ainda não existia a coleção dos livros sagrados encadernada num só volume; o Apóstolo apenas tinha em vista o Apocalipse, que ele declarava intocável. Os citados textos do Deuteronômio proíbem qualquer alteração da Lei de Deus. A objeção está incompleta. Ela insinua que a Igreja Católica acrescentou à Bíblia os sete livros Deuterocanônicos ou controvertidos nos primeiros séculos, até 393, como dito atrás; seriam os livros de Tobias, Judite, Baruque, Eclesiástico, Sabedoria, ½ Macabeus. Ora, em PR 432/1998, pp.194ss são reproduzidos os textos de Concílios e Papas que proclamam a canonicidade desses sete livros desde o século IV. Foi Lutero quem no século XVI retirou esses escritos do Livro Sagrado. Apesar disto, as edições protestantes da Bíblia incluíam esses escritos em apêndice até o século XIX.
15) “Não sou católico romano porque disse Jesus em Apocalipse: ‘Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e não tomes parte das suas pragas’ (Apocalipse 3:13 a 17)”.
Observamos, antes do mais, que a citação é falha; o texto transcrito se encontra em Apocalipse 18,4. – A exortação para sair… refere-se a Babilônia, imagem da Roma pagã e perseguidora dos cristãos; nada tem a ver com a Igreja Católica, à qual o autor do Apocalipse pertencia. Não se pode interpretar um texto bíblico isoladamente do seu contexto.
16) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia nenhum relato de Batismo de crianças, e o próprio Jesus, nosso exemplo em todas as coisas, foi batizado com cerca de 30 anos (Lucas 3:21 a 23) – Não encontro na Bíblia o Batismo por aspersão, pois Jesus foi batizado nas águas do rio Jordão (Mateus 3:13 a 17)”.
A Escritura não refere explicitamente o Batismo de crianças. Todavia narra que vários personagens pagãos professaram a fé cristã e se fizeram batizar “com toda a sua casa”; assim, o centurião romano Cornélio (Atos 10,1s, 24.44.47s), a negociante Lídia de Filipos (Atos 16,14s), o carcereiro de Filipos (Atos 16,31-33), Crispo de Corinto (Atos 18,8), a família de Estéfanes (I Coríntios 1,16). A expressão “casa” (domus, em latim, oikos, em grego) tinha sentido amplo e enfático na Antigüidade; designava o chefe da família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças (que geralmente não faltavam). Indiretamente, pois, as Escrituras propõem o Batismo de crianças.
Ademais Orígenes de Alexandria (+250) e Santo Agostinho (+430) atestam que “o costume de batizar crianças é tradição recebida dos Apóstolos”. Jesus só foi batizado aos 30 anos, porque somente com 30 anos Ele proclamou e instituiu o Batismo.
Quanto à imersão na água, nem sempre era (e é) possível praticá-la, por falta de rio ou por motivos de saúde…; donde a prática da aspersão: a água corre sobre a pele do catecúmero, significando a purificação interior.
17) “Não sou católico romano porque esta igreja está repleta de doutrinas pagãs, como a doutrina da imortalidade da alma e a vida pós-morte, ao passo que a Bíblia afirma que a alma é mortal (Ezequiel 18:2 e 20) e ‘que após a morte não há nenhuma consciência ou existência (Ecles 9:5, 6,19: Jô 7:8 a 10)”.
Para negar a imortalidade da alma, o autor da objeção se apóia em textos do Antigo Testamento apenas. Na verdade, os judeus originariamente julgavam que, após a morte do homem, subsistia um núcleo da sua personalidade chamado refaim adormecida e inconsciente. Ezequiel chega a dizer que a alma morre para significar não a destruição da alma, mas sim a punição que ocorre ao pecador endurecido no seu pecado.
Essas concepções judaicas primitivas foram cedendo à noção de imortalidade da alma consciente no além; assim no século I a.C. o livro da Sabedoria, em seus capítulos 2 a 5, professa tal doutrina, que o Novo Testamento ensina claramente. Basta citar as palavras de Jesus ao bom ladrão prometendo-lhe o paraíso após a morte (conforme Lucas 23,43); os dizeres de São Paulo em Filipenses 1,23: “O meu desejo é partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muito melhor”. Ademais o Apocalipse apresenta a Liturgia celeste celebrada pelos mártires e justos, “que lavavam suas vestes no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7,14). Os justos no céu acompanham a vida de seus irmãos na terra e bradam ao Senhor: “Até quando… tardarás a fazer justiça, vingando o nosso sangue contra os habitantes da terra?” (Apocalipse 6,10). Por conseguinte, é falso dizer que a alma humana é mortal ou que no além se encontra adormecida e inconsciente.
18) “Não sou católico romano porque não encontrei na Bíblia nenhuma passagem que mande santificar o Domingo como dia de Descanso Semanal. Na realidade, o Domingo foi instituído pelo Imperador Constantino romano, pagão, na data de 7 de março de 321 depois de Cristo, esse decreto dominical pagão foi aceito e confirmado pela Igreja Católica Romana no ano de 364 d.C. Ao contrário disto, mais de 140 passagens bíblicas falam do Sábado como o dia de repouso de Deus, deixando para o nosso repouso semanal. Veja Êxodo 20:8 a 11; Isaías 58:13,14; 66:22 e 23; Atos 13:14,43,44; 16:13; 17:2; Apoc 14:12”.
Mais uma vez o autor das objeções privilegia o Antigo Testamento em detrimento do Novo. Com efeito, a Lei de Deus manda observar todo sétimo dia como dia de repouso dedicado ao Senhor. Os cristãos cumprem exatamente essa norma; diferem, porém, dos judeus (e dos adventistas) pelo fato de começarem a semana na segunda-feira e a terminarem no dia seguinte ao sábado judaico. E por que houve esse deslocamento do sétimo dia ou do sábado? – Porque Jesus ressuscitou como novo Adão no dia seguinte ao sábado ou no primeiro dia da semana judaica; Ele re-criou o ser humano. Os cristãos compreenderam logo que deveriam reverenciar tal dia como o Dia do Senhor por excelência, celebrando então a Eucaristia ou a Páscoa do Senhor. É o que atestam certos textos do Novo Testamento:
I Coríntios 16,2: “No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de lado o que conseguir poupar; deste modo não se esperará a minha chegada para se fazerem as coletas” – O Apóstolo se refere à assembléia litúrgica realizada “no primeiro dia da semana”.
Atos 20,7: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a fração do pão, Paulo entretinha-se com eles”.
Em Apocalipse 20,10 está dito que esse primeiro dia da semana era a Kyriakè heméra, o Dia do Senhor, a dominica dies (em latim) ou a dominga (no português arcaico). O que importa, não é a palavra sábado como tal, mas o seu significado de 7º dia dedicado ao repouso e ao culto do Senhor. Para o cristão, celebrar o sábado judaico é, de certo modo, ignorar a Páscoa ou o fundamento da fé cristã.
Seja lícito acrescentar: Não sou protestante (nem adventista do 7º Dia) porque, por mais que tenha procurado, não encontrei na Bíblia passagem alguma que recomende escrever panfletos injuriosos e caluniadores contra os irmãos católicos a fim de propagar o Evangelho. – Ao contrário, só encontrei na Bíblia textos que mandam amar a todos os homens, inclusive aos inimigos (Mateus 5,43-48). Também encontrei na Bíblia a notícia de que Jesus Cristo é a Verdade (João 14,6) e Satanás é o pai da mentira (João 8,44s). Quem se afasta dessa norma, não é evangélico.
Apêndice:
Os adventistas costumam dizer que o Papa é a Besta do Apocalipse (13,18), porque as letras do título VICARIUS FILLI DEI perfazem o total 666. Tal exegese é falsa, pois São João e seus leitores imediatos não conheciam o latim. Mas, usando a mesma tática, pode-se dizer que a grande mestra dos adventistas é a Besta, como se vê abaixo:
E L L E N G O U L D W H I T E = 50 50 5 50 500 10 1 = 666
Em suma, eis alguns dados que podem servir aos fiéis católicos quando agressivamente interpelados por seus irmãos.
LikeLike