Apologética Católica

O papel da Igreja na preservação da Revelação: Uma breve história da Bíblia


Dentre todos os livros já escritos e publicados , a Bíblia é o mais lido, vendido, estudado, traduzido, presenteado, citado, etc…É o maior best-seller de todos os tempos. Na Bíblia nós descobrimos a profundeza da generosidade do amor de Deus, bem como Seu desígnio para toda humanidade.

A palavra Bíblia vem do grego e quer dizer  “os livros” ou  “biblioteca”, portanto, o próprio nome indica que não se trata apenas de um livro, mas de uma coleção de livros, setenta e três ao todo: quarenta e seis do Antigo Testamento e vinte e sete do Novo. Mas de onde veio a Bíblia e como nós fomos presenteados com tal benção? De fato, esta é uma pergunta importante que todo bom Católico deveria saber e estar pronto a responder.

Nos anos recentes temos testemunhado um verdadeiro “sequestro” da Bíblia por parte dos Protestantes e Cristãos Evangélicos.  Muitos Católicos já passaram pela situação, seja no trabalho, na rua, no supermercado, quando são abordados por um Cristão evangélico com o propósito de nos ‘evangelizar’. Muitas vezes, os métodos usados por esses Cristãos zelosos pode nos parecer agressivo, pois imediatamente poem-se a citar versículos da Bíblia e com sua retórica bem argumentada, deixam-nos por vezes cheios de dúvidas, sentindo-nos inadequados, confusos, cansados. Se a conversa se estender um pouquinho além das apresentações e amenidades, há uma grande chance de que o assunto da autoridade da Bíblia como única fonte de inspiração, direção e Revelação também seja discutido. Essas idéias geralmente são apresentadas de forma sutil, mascarando assim um verdadeiro ataque ao Catolicismo e aos ensinamentos da Igreja Católica, pois a Igreja ensina que tanto a “Sagrada Escritura e a sagrada tradição formam um sagrado depósito da palavra de Deus” ( Dei Verbum).

Por mais de 1500 anos todo Cristão era Católico – exceto pelo modestíssimo número de Cristãos cismados presentes nas tradições Oriental – e todos reconheciam os setenta e três livros da Bíblia, tal e qual estabelecido pelo Cânon Católico. É interessante que a maioria dos Cristãos não-Católicos não têm a menor ideia de quantos livros da Bíblia a versão protestante excluiu. A maioria deles também não têm a menor ideia porque reconhecem o Cânon  Católico do Novo Testamento, mas rejeitam o do Velho!

A Bíblia não foi escrita de uma só vez ou por uma só pessoa. De fato, mais de 1000 anos se passaram entre o feitio de Gênesis e o Apocalipse. Se nós vivêssemos no tempo do Rei Davi (1000-962 AC),  a única parte do que hoje é a Bíblia a existir seriam algumas partes do Gênesis, Êxodo, a viagem dos Judeus do Egito à Terra Santa, e os contos dos Israelitas se assentando na terra prometida. O Velho Testamento foi escrito e compelido entre o século XII e século II AC. Enquanto o Novo Testamento foi escrito entre o ano 45 e 150 DC.

Parte da Bíblia foi escrita originalmente em Hebreu, a língua proeminente do Antigo Testamento, enquanto o Grego foi a língua predominante do Novo Testamento. E em cada caso, é importante que nós percebamos que a cultura, os países e o contexto histórico da época eram muito diferentes daqueles dos dias de hoje. Mas mais importante ainda é lembrar que a Bíblia, tal e qual a conhecemos hoje, nunca tinha sido impressa até quase 15 séculos após o nascimento de Cristo! Esse fato em si já deveria se evidencia bastante e suficiente para convencer o Cristão mais cético do papel e da importância da Sagrada Tradição na vida da Igreja e, por conseguinte, para a sustentação da religião cristã.

No mundo moderno, podemos não apenas comprar a Bíblia em qualquer livraria, bem como baixá-la nos nossos aparelhos modernos, Ipods, Ipads, acessá-la pela internet, etc… Mas como era a realidade do cristão nos 1500 anos que antecederam a primeira impressão da Bíblia? De antes da invenção da impressa escrita? Ou seja, por quase mil e quinhentos anos entre o nascimento, morte e Ressurreição de Jesus Cristo, os únicos livros que existiam eram escritos manualmente. Isso certamente derruba o argumento do Protestante-Evangélico que cada pessoa deve carregar para cima e para baixo uma cópia da Bíblia para ser considerado Cristão, bem como o seu criticismo de que nenhum Católico lia a Bíblia antes da Reforma Protestante! É importante lembrar que muitos cristãos da Antiguidade derramaram o próprio sangue em defesa da Fé – os primeiros mártires do Cristianismo – sem nunca terem tido a oportunidade de possuir uma bíblia, tal e qual temos o privilégio de fazer hoje.

Ora, se viveram antes da invenção de Imprensa Escrita, como os homens e mulheres dos primeiros 15 séculos de Cristianismo, eles também não teriam acesso algum a uma cópia física da Bíblia? Isso não ocorreu porque a Igreja queria manter  a Bíblia longe do alcance do povo, ou porque queria mantê-los ignorantes, mas simplesmente porque cada cópia da Bíblia era um manuscrita – ou seja, copiada à mão – a partir da versão original que um Monge ou Frei Católico tinha laboriosamente copiado à mão, em páginas de pergaminho ou couro. Por um milênio e meio os Cristãos aprenderam sobre as história da Salvação contida na Bíblia através principalmente das leituras das passagens e dos sermões e pregações que ouviam na Igreja durante a Missa, mas também observando os vitrais coloridos das janelas da Igrejas, ou assistindo-a encenada em peças de mistério, canções, hinos, etc.

Apesar disso, a maioria dos Evangélicos de hoje despreza o valor e o papel da Igreja, que ensinou a fé Cristã e proclamou Cristo à milhões de pessoas em toda parte do mundo e insistem que é impossível obter Salvação sem a Bíblia. Se esse fosse o caso, o que aconteceu com os cristãos que viveram antes da invenção da Imprensa?  Ou mesmo àqueles que viveram depois da Invenção da Imprensa Escrita, que ocorreu por volta de 1540, uma vez que a primeira impressão da Bíblia produziu apenas 48 cópias em Latim. Isso significa dizer que por muitos séculos, mesmo depois da impressa escrita, haviam pouquíssimas bíblias disponíveis aos fiéis, pois seu custo era elevadíssimo e poucas pessoas podiam obter uma cópia. Se não bastasse o elevado custo, é importante lembrar que por centenas de anos o analfabetismo no velho mundo atingia a maioria da população. Sendo assim, somente aqueles mais favorecidos – financeiramente e culturalmente – eram capazes de ler, seja a Bíblia ou outra obra literária.

Monges Benedictinos rezando o Divino Ofício

Isso não quer dizer que a Igreja não encoraje e até mesmo ensine sobre a necessidade de lermos a Bíblia; uma prova disso é a tradição do chamado “Lectio Divina”  ou Leitura Orante, que é uma prática e método de oração, reflexão e contemplação praticado pelos fiéis do Catolicismo desde tempos antigos, particularmente nos mosteiros beneditinos. Consiste na prática de oração e leitura das Escrituras e tem o intuito, segundo a Igreja Católica, de promover a comunhão com Deus e aumentar o conhecimento da Palavra de Deus. Ou ainda o Divino Ofício ou A Liturgia das Horas que é a oração pública e comunitária oficial e consiste basicamente na oração quotidiana em diversos momentos do dia, através de Salmos e cânticos, da leitura de passagens bíblicas e da elevação de preces a Deus. Com essa oração, a Igreja procura cumprir o mandato que recebeu de Cristo, de orar incessantemente, louvando a Deus e pedindo-Lhe por si e por todos os homens.

Um estudo sério da história do Cristianismo demonstraria, seguramente, que todas as denominações cristãs possuem um débito com a Igreja Católica, que guiada e inspirada pelo Espírito Santo,  compilou, preservou a integridade das Sagradas Escrituras. A Igreja, por 15 séculos preservou a Bíblia contra a destruição e extinção, traduziu-a para todas a línguas da face da terra e, diante do perigo da adulteração, sempre manteve uma versão livre de corrupção humana – fato jamais realizado por qualquer outra denominação cristã.

Contudo, parece-nos paradoxal que atualmente tantos daqueles que alegam seguir e amar a Cristo sejam tão hostis contra justamente aquela Igreja que preservou sozinha os registros de Sua vida e Seus ensinamentos.  Infelizmente, por causa dessa mentalidade prolifera-se no mundo a ideia de que a interpretação pessoal das Escrituras, bem como  o argumento de que a instituição da uma Igreja – e sua autoridade –  sejam desnecessárias e até prejudiciais à sã fé cristã. Essa mentalidade tem gerado uma enorme desunião entre os cristãos do mundo e confronta cinicamente a prece de Nosso Senhor que pediu ao Pai que «Todos fosse um» ( Jo 17,22).

A interpretação das escrituras é uma questão de autoridade e não nos surpreende que o maior obstáculo para a Unidade do Cristianismo seja justamente esse. Deus não deseja que sejamos cegamente subservientes, Ele deseja que sejamos amorosamente obedientes Ele, e Deus está presente e vivo em uma Igreja Una, Católica e Apostólica.

6 replies »

  1. Helen meus parabéns , pois você com os seus conhecimentos está me ajudando bastante sobre os assuntos postados

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  2. Desculpe-me Helen, mas a Palavra de Deus sobreviveu muito bem por milênios e milênios sem a proteção da igreja católicos, e quando esta pensou ser a guardiã, foi para gerar protestos (Protestantismo) e discórdias, de forma a dividir o Cristianismo entre os que aceitaram as heresias e os que preferiram morrer pela manutenção da verdade de Deus.

    Se você não sabe fique sabendo:
    O Verdadeiro guardião da Palavra de Deus é o Espírito Santo.

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    • Sr. Cobra Mil,

      Lamento informar, mas é o Sr. e não a Igreja quem está errado sobre a autoridade final.
      Qto à sua afirmação de que ha milenios a palavra esteve bem guardada, está muito correto, somente sua conclusão é incorreta. Esteve bem guardada por conta da Igreja, e não porque é a «autoridade final». Além disso, a história prova que seu argumento está errado, basta estudar as inúmeras heresias contra as quais a Igreja teve que lutar!
      Se hoje cremos na Trindade, é graças ao discernimento da Igreja, que lutou contra as heresias que negavam a divindade de Cristo – isso para citar apenas uma delas !
      Portanto, caro irmão, seu ponto está completamente inválido.

      Lembre-se que a Bíblia proclama a Igreja e não a ela mesma, como Coluna e Sutentátuculo da Verdade!

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